segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Entre dois degraus, um abismo




Subindo as escadas
vi
Como nunca antes
Enxerguei
O abismo infinito
Os mundos que se abriam ali


Abaixo de meus pés 
vi
Naquela rústica escada
Percebi
Quantos abismos existem
Entre o eu de outrora
E esse eu 
estranho
de agora


Ouvia 
o mar em pedras
Bater
Me encontrava ali
Estaqueada
Encarando
ironicamente
o abismo que criei dentro de mim


Jamais encarei tal verdade
Jamais imaginei existir
Esse buraco
Negro
Entre um degrau aqui

E outro ali


Virei-me
O mar continuava sua revolta
Como ele as odiava
Batia com força
Pedras malditas
O impediam de prosseguir

Adentrar

A vasta terra, 
erroneamente habitada 
estranhamente destruída
esse louco
contraste
entre o que destruímos
e o que destróis
por 
necessidade

Necessidade
de demonstrar
total
força
e coragem
diante
da selvageria 
da construção

Essa necessidade
de povoar
conquistar


Como
me assemelhar
a
essa selvageria?


Encaro meus pés
O abismo?
Ainda ali
Não sei
Será possível?
Ultrapassá-lo?
è

Ergui meu pé
Estava cheio de areia branca
Toquei o degrau a frente
Senti-o
Integrei-o a mim
Fui ele

E ele

Foi eu


Então subi todos os outros
Ignorei-os
O abismo que eu
Havia ingenuamente criado
Fora literalmente ultrapassado


Jamais voltei ali
Aquela escada
Aquele degrau
Jamais voltei ali


É um abismo
Um abismo que
Não sei
Ser capaz de
Inibir
Uma vez mais

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Bestante

















Companheiro silencioso
em noite turbulenta
é remédio, calmante,
relaxante muscular
Derruba completamente

As ondas inebriantes
perambulam e enchem
meu quarto
os movimentos compassados
repetidos e bem ensaiados

Seduz-me, incapacita-me
não penso em nada
e ainda assim penso em tudo
Como danças,
Oh meu amado Deus
como danças

Me embriaga como a morte
me desnuda como a morte
diante a ti não respondo
mais como eu
mas sim como um outro ser

Ser fantástico, como um fauno
um bestante, criatura envolvida
em mágica e silêncio
Silêncio fervoroso
como um vulcão
à explodir em instantes

Me invade, me possui
me absorve, inspira

fumaça
fumaça
fumaça

Então, solto a última tragada
apago-o no cinzeiro
desligo a luz

nada
nada
nada

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Quietude



Certamente,
Pensas
Que sou
Louca,
Inquieta,
Tagarela,
Gritante.

Vou concordar.
Concordar
Que
Quando me
Deitas de costas e
Segura meus ombros
Passando
Lentamente
Seus lábios
Em meu pescoço

E
Descendo
Fico quieta
Bem quieta
Uma quietude
Onírica

O
Coração
Acelera
Mantem-se
Alerta
A respiração
Tardiamente
Controlada
As costas
Arqueadas
Meus olhos
Se abrem
quando carinhosamente
a sinto
próxima

Próxima
de meus lábios
Meu rosto
de perfil
aguarda
Meu corpo
aguarda
Silencioso

Calmaria

Suas mãos
Descem pela
Minha cintura
Param
Uma eternidade
Em minha bunda
Até
Que

Finalmente

A calmaria
se esvai
aos poucos
aquela quietude
onírica
perde espaço
E
eu...
Eu grito
Me afogo
Arranho
o travesseiro

Ah eu grito!
Como grito...

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Trem



Aquela chatice
esconde um coração
coração
GIGANTE
A frieza
é quente
em dias
úmidos
Minha intensidade
te anula
Meu egoísmo
te cobre
Juro,
me culpo,
se errei
foi tentando 
acertar
Errei por
não saber
como te 
amar
Por não
enxergar
o ar de 
liberdade
que te rodeia
Eu?
Passarinho
na gaiola
Me prendo
Te prendo
Me perdoa
se não sei
ler os sinais
Se a esperança
e a culpa
me cegam
A carência
e dependência
me
ludibriam
como fumaça
A chuva não 
para
de cair
lá fora
Aqui dentro
a tempestade
tenta
sem sucesso
amornar
Mas o sol
se esconde
Foge
não se deixa
reinar
Nem as 
lágrimas
caem
Tudo se vai
e o corpo
treme
Como um
Trem
tentando
manter-se nos trilhos
Tudo que tenho
são memórias
Memórias
de um dia bonito
dos olhos 
brilhando
e o
cabelo
escorrido.

Holocausto? Que bagunça


Entender?
De dia choras
A noite ?
Enxerga-te
Enxerga seu sorriso

Sorriso dado a uma estranha
Estranha
que rouba seu ar
perto daquela mesa
aquela porta
aquela cadeira
do bar

Música?
Não toca mais
Bebida?
Sem efeito
Você nem a sente

O beijo?
Ele sim
É
quente
embriaga

Embriagante 
como aquela voz
o som tenro 
lancinante
daquela voz

E todas as palavras ditas
os livros lidos
os poemas escritos
Todas as azeitonas 
comidas
e não comidas

O holocausto
abnegador 
de uma sociedade
"azeitonal"
Nada temível 
mas sim
uma bagunça!

Sim!

Minha mente 
Balança
A humanidade inteira
balança
O caos é instaurado

Silêncio noturno
entrecortado 
por
pensamentos 
GRITANTES

Calma!

Compreendes?
Até o mesmo 
cigarro
compreendes!
Que grande camelo
prateado eu seria

Dois sabores
Duas pessoas
Reúnem-se
Explode-se

Holocausto?
Claro.
Renunciarias ?
Os céus, a terra...

O que são 
algumas azeitonas 
no lixo
perto do calor
o calor do
seu cachecol turquesa.

Me bagunças
Me bagunce
Bagunçadas somos.




domingo, 24 de julho de 2016

Batom preto


Meu olhar cruzou seus cabelos roxos
Esvoaçando naquela fria noite de julho

Desejei você 

Não vou mentir 
Antes dessa noite

Desejei você 

Não como um homem desejaria
Mas sua alma 
Aquela vista através de suas lentes

Desejei você 

Você não queria entrar 
Mas queria estar
Eu queria estar
Você entrou 
A esperança me acalentou 

Desejei você 

Seu batom preto
O brilho nos seus olhos
O copo em sua mão 
Seu corpo 
Movendo-se 
Os joelhos dobravam-se 

Desejei você 

 Nossos corpos
Em mesma sintonia 
Tentava sem sucesso 
Esconder
Esconder essa louca vontade de você

Eu ?
Eu beijei você 

Me descontrolei 
A parede foi nosso único obstáculo 
Nos impedindo de prosseguir
De viajar
Continuar
Voar 
Cair em profundo desalento
Perdidas em nossas próprias conclusões 

E o que eu tinha ?
Uma passagem de ida para o seu belo universo
Uma passagem de ida para um capítulo diferente

Desejei você

Desejei conhecer você
Fazer parte do que você é
Enxergar o que você vê
As belezas que você capturou

E o que eu tive ?
Por algumas horas
Tive seu cabelo em minhas mãos
Seu olhar de encontro ao meu
Seu perfume natural
Seus lábios
E a marca de batom preto em meu rosto

Desejei você